Um coletivo composto por uma juventude atuante na luta por direitos humanos e propagadora de conhecimentos artísticos, políticos e científicos, dentro de um dos maiores bairros de Salvador. É dessa maneira que apresento-lhes a Juventude Ativista de Cajazeiras-JACA.
Provavelmente, todo soteropolitano já ouviu falar em Cajazeiras, mas poucos conhecem a efervescência cultural do bairro. A JACA é um dos agentes precursores nesse quesito e em muitos outros. Iniciada em abril de 2004, o movimento é formado por sete membros da administração e centenas de pessoas que participam das ações de caráter socioeducativo que visam garantir à população o direito à cidadania.
O grupo é liderado pelo produtor cultural, artista, educador e poeta, Marcos Paulo, 32 anos, que, apesar de não concordar com a denominação de líder, coordena as principais atividades. Morador de Cajazeiras 3, Águas Claras, desde que nasceu, Marcos conta que sempre gostou muito de ler sobre diversos assuntos e participar de debates no bairro.
Já Vagner Lima, 33 anos, atua como desenvolvedor de websites, é músico e faz parte da JACA desde 2018, mas há muito conhece o coletivo. Atualmente morando em Boca da Mata, Cajazeiras, Vagné -como é conhecido artisticamente- fala da importância de haver um fortalecimento cultural e político entre os grupos periféricos: “ A JACA é um meio de promover o que me foi dado e passar para outras pessoas que não tiveram essa oportunidade. Precisamos criar uma rede e nos ajudar. Microfone aberto para cada um falar o que pensa é libertador! Aqui podemos conversar na mesma altura. Não tem palanque para ninguém! “, observa o músico.
Crédito: Ândeli Santiago. Obra de arte do artista Cássio Santos, pintada em uma das paredes internas da sede JACA, retratando grandes mestres da capoeira da Bahia: Véo, Paulo dos Anjos, Canjiquinha, Aberrê e Lua Rasta.
Embora o grupo esteja ativo há 15 anos, muitos cajazeirenses ainda o desconhecem. Diante disso, é necessário questionar como é possível morar em Cajazeiras e não conhecer um movimento que propõe uma política de equidade tão necessária? Na opinião de Marcos, a resposta está no próprio desinteresse local, pois existem parceiros de outras periferias e bairros de Salvador, de outros países até, mas poucas pessoas são de Cajazeiras.
A sede da JACA está localizada em Cajazeiras V e foi conquistada através de um edital. Na sede, o grupo promove as ações que, antes, eram realizadas na praça do bairro como festivais de jazz, reggae, caravana cultural, sarau literário, debates, exposições e muitas outras. “Comunicar na praça é diferente de comunicar no espaço. Na praça as pessoas não estavam ouvindo nossas angústias e propostas”, explica Marcos.
Quando questionado sobre a importância da voz periférica o produtor cultural analisa: ” O Sarau de Poesia é um exercício de cidadania. Quando a gente promove um evento com microfone e a pessoa tem medo de falar alto, é constrangida, tímida… Olha, que violência! Todo negro é tímido? Existe um processo de silenciamento histórico, as pessoas são impostas a essa condição de silêncio, de negação de si e desconhecimento da sua história, de incompreensão do seu lugar no mundo. E no sarau do JACA a gente discute identidade, cor, valorização e ressignificação. Nossas poesias falam de problemas nossos, da periferia, da sociedade. As pessoas se sentem livres aqui. É o que a gente quer fazer: criar um espaço de autonomia e liberdade”, e ainda sinaliza “ a periferia como um espaço de vivência é maravilhoso! Eu gosto de viver em Cajazeiras, não é balela. O problema é como o governo trata a gente e distribui os equipamentos públicos. Se o governo distribuísse de maneira correta, justa, promovendo saúde, educação como a gente entende, Cajazeiras não teria problema nenhum” .
Para se tornar membro da Juventude Ativista de Cajazeiras é preciso participar das atividades promovidas e contribuir com ideias e opiniões durante as reuniões que ocorrem uma vez na semana. As periferias devem dialogar, é necessário plantar sementes de JACA, para que muitos bagos possam atuar não só em Cajazeiras, mas em todo o mundo.
* Matéria publicada no Jornal A Voz da Favela, edição de Maio 2019