O campo de ferramentas baseadas em software livre voltadas para a comunicação e mídias sociais é muito vasto, assim como o são as possibilidades de criar novas opções e colaborar com as já existentes. Com os debates sobre o controle dos fluxos de informação, fake news e vigilância digital em alta já há algum tempo, como este feito pelo Passa Palavra em maio de 2019, é interessante encontrar alternativas às tecnologias vigentes no ambiente virtual. Há vários caminhos abertos para quem quiser sair das rotas óbvias e hegemônicas e esse texto visa apresentar algumas das possibilidades sem se perder muito nos detalhes técnicos.
Existe todo um movimento de redes sociais federadas que dialogam entre si e disponibilizam seus softwares e protocolos a qualquer pessoa ou grupo com interesse em criar uma rede própria que possa se comunicar com outras baseadas em tecnologias semelhantes. Basicamente, isso significa que não existe um servidor central – que armazene e controle sozinho todo o fluxo de dados – nem uma instituição possuidora das ferramentas e, portanto, qualquer organização que tiver interesse em criar uma instância de uma rede descentralizada para as pessoas envolvidas em determinada causa, por exemplo, pode. Significa também que o usuário final – nós – tem maior controle sobre suas informações online e pode conversar com pessoas utilizando outro servidor de alguma dessas redes. É possível também simplesmente abrir uma rede que seja alternativa às principais e, assim, aceite o acesso de qualquer pessoa que se registrar. Se for desejável controlar o acesso através de convites ou alguma outra forma, também é uma opção existente. As possibilidades de funcionamento são múltiplas, inclusive integração com Facebook e Twitter é oferecida em algumas instâncias.
Uma das pioneiras foi a Diaspora, que popularizou as redes alternativas e possibilitou a criação de um circuito ao seu redor, conhecido no meio como Federação (The Federation). Há também o Fediverso (Fediverse), grupo das que utilizam o protocolo da Diaspora associado a demais ferramentas afim de expandir suas funcionalidades. Quem procura opções de redes sociais integradas, ou seja, as que unificam postagens, grupos, eventos, mensagens instantâneas, álbuns, fóruns, armazenamento de arquivos – tudo o que as maiores redes fazem e um pouquinho mais – podem ir atrás da Friendica ou da Hubzilla, integrantes do Fediverso. A primeira é mais familiar, funcionando como uma rede padrão. A segunda busca ser mais inovadora, tendo uma complexidade um pouco maior ao se comportar mais como um ecossistema de ferramentas sociais que uma rede comum. A Diaspora entra aqui também, mas acredito que as supracitadas superam as limitações da mesma. Servidores sugeridos: FENEAS (Friendica) e USSR (Hubzilla). Para microblogging (como o Twitter) existem a Mastodon, referência robusta nesse meio, e a Pleroma, um tanto mais enxuta e minimalista que a primeira. Há também uma alternativa de vídeo sob demanda conhecida como PeerTube, que pode ser conferida no servidor SpacePub. Já entre as ferramentas mais recentes vale à pena destacar a Socialhome, que usa o conceito de macroblogging para funcionar como um mural pessoal e a Pixelfed, uma versão federada do Instagram.
Assim como a Hubzilla, algumas propostas tem sido mais ousadas, visando transformar nosso entendimento de redes sociais e comunicação online. A Nextcloud é uma delas, que a princípio mostra-se como um serviço de armazenamento em nuvem comum. No entanto, usando diferentes ferramentas de forma modular e integrada, revela-se como uma rede que possibilita chat, videoconferência, notas, agenda e diversas outras soluções virtuais que podem ser compartilhadas entre diferentes usuários. É um leque de tecnologias sociais que vem sendo bem explorado internet afora. Para quem quiser experimentar, recomendo este servidor. Outra que merece destaque é a Matrix, que vem sendo arquitetada para funcionar como um serviço de comunicação que possa entrar em contato com qualquer outro. Apesar do crescimento rápido, ainda está em fase inicial e é um pouco difícil entender todo o seu funcionamento, mas vale muito uma conferida ainda assim.
Por serem novidade para muita gente e um assunto pouco abordado, lidar com redes federadas pode causar um certo estranhamento a princípio e parecer algo banal. Porém, como boa parte das ferramentas digitais descentralizadas, existe uma comunidade munida com uma ampla documentação que passa por sites, artigos e vídeos que tratam sobre o funcionamento destas redes, novidades, dúvidas frequentes e seu papel nesse campo de disputa que é a comunicação e o controle de dados virtuais, discussão que ainda precisa ser mais aprofundada nos nossos círculos de convivência.